Escudo frontal? NÃO!

A segurança rodoviária infantil não é uma moda.

Infelizmente, muitos pais rejeitam a informação sobre a importância da segurança rodoviária para os seus filhos. Mas uma cadeirinha não se trata de moda, é uma questão puramente física e de segurança.

Não só não é moda, mas também não queremos impor uma crença que deva ser aceite cegamente. Pelo contrário, oferecemos dados e estudos que suportam a importância da segurança rodoviária infantil. É responsabilidade de cada um fazer o esforço para se informar, proteger as crianças e agir com consciência.

Não é aceitável que uma criança morra ou fique com lesões irreversíveis num acidente rodoviário por usar um sistema de retenção inadequado e inseguro, especialmente quando existem dados convincentes que comprovam certos aspectos da segurança rodoviária infantil. Infelizmente, crianças que deveriam sair ilesas de acidentes estão a perder a vida ou a ficar gravemente feridas para o resto das suas vidas, apesar de os pais terem comprado a melhor cadeira possível segundo os “testes independentes”.

Um caso muito conhecido, pelo menos para a maioria dos pais que se preocupam com este tema, é o caso do Gabriel, também conhecido como “el vikingo“. Este menino de apenas 2 anos sofreu um acidente rodoviário que o deixou paraplégico após sofrer uma decapitação interna. Depois de uma luta árdua de sete meses, Gabriel acabou por falecer. Embora viajasse numa cadeira conhecida que retinha o seu torso com um escudo frontal, a sua cabeça e pescoço não foram devidamente protegidos.

Infelizmente, existem mais casos como o de Gabriel. Não podemos ignorar a importância da segurança rodoviária infantil e devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para proteger as nossas crianças.

Exemplo de cadeira com escudo frontal

É importante que os pais tenham acesso à verdade sobre a segurança rodoviária infantil, incluindo informações que muitas vezes não são transmitidas pelas lojas, instituições e principalmente pelas marcas. Embora a segurança da contra marcha seja uma certeza estabelecida, a maioria das comunicações a esse respeito é vaga, contraditória e não fornece detalhes vitais. Isso pode impedir que os pais tenham informações completas e verdadeiras para decidir qual é o melhor sistema de retenção para seus filhos. 
Na Suécia, os pais são pioneiros na prática de viajar em contra marcha com as crianças até, no mínimo, os 4 anos de idade e, normalmente, até os 5/6 anos, quando por peso e altura já não cabem nas cadeiras em contra marcha e já podem viajar em cadeiras a favor da marcha com o cinto de segurança. Não é coincidência que a Suécia é o país com menor número de mortes de todo o mundo em acidentes de tráfego.

https://www.unicef-irc.org/publications/pdf/repcard2e.pdf

O pescoço das crianças com menos de 4 anos não está completamente ossificado e não consegue suporar a força da inércia de um impacto frontal. Em acidentes frontais e traseiros entre automóveis, os ocupantes que viajam a favor da marcha são empurrados para a frente pela inércia do movimento. Uma criança pequena mantém o torso preso à cadeira por arnês ou escudo, mas a cabeça pode sair disparada, aplicando sobre o pescoço uma força que este ainda não consegue suportar por não estar ossificado.
Existem cadeiras auto que permitem viajar em contra marcha até aos 5/6 ou mais anos, mas dependendo da estatura da criança, há quem diga que não são seguras – sejam pais, blogues ou lojas. 

Contra Marcha / A favor da marcha

Algumas dessas cadeiras têm o selo Plus Test, considerado o teste mais exigente a nível mundial. Na Suécia e na Noruega, a maioria das cadeiras de segurança infantil usadas são certificadas com o selo Plus Test e em Portugal a procura por essas cadeiras já é alta.

Em Portugal, muitas organizações aconselham que as crianças viajem em contra marcha, mas, contraditoriamente, classificam essas cadeiras como inseguras e colocam as cadeiras a favor da marcha no topo do ranking.

Infelizmente, cerca de 10% da população portuguesa transporta crianças sem qualquer sistema de retenção ou ao colo, e 30% já transportou pelo menos uma vez sem qualquer sistema de segurança. uma prática perigosa que está a aumentar.

Ao contrário de muitos países, onde a maioria das crianças viaja em contra marcha, em Portugal quase todas viajam a favor da marcha, o que pode explicar a alta taxa de mortalidade infantil em acidentes rodoviários. Seguir as medidas de segurança de países que têm uma cultura rodoviária mais avançada seria uma opção mais segura.

Embora haja um período de transição em que as crianças não têm altura suficiente para usar apenas o cinto de segurança numa posição segura e precisem de um sistema de retenção conhecido como cadeiras do grupo 2/3, existem cadeiras auto a favor da marcha, que são seguras e não apresentam o risco de reter o torso e atirar a cabeça.

As cadeiras no sentido da marcha mais inseguras do mercado são aquelas com escudo frontal, que prendem a criança à cadeira pelo abdómen, apresentando também o risco de ejeção. Apesar de terem caído em desuso nos anos 90, algumas marcas recuperaram essa forma de retenção e vendem-nas como o sistema mais seguro, apoiados ainda por algumas entidades/autoridades.

É importante escolher com cuidado um sistema de retenção seguro para a criança, considerando a idade, altura e peso, e não se deixar enganar por informações contraditórias ou propaganda possivelmente enganosa.

Uso de testes internos como medida de segurança.

Durante um acidente frontal, o carro em que estamos levanta do chão, pelo menos as rodas traseiras, e isso pode ser visto nos testes realizados pelo EuroNCAP. Se já sofres-te um acidente de alta velocidade, sabe do que estamos a falar. Infelizmente, quando vemos os testes de colisão das cadeiras auto, o carro é fixado a um caminho, isto não simula um acidente real.

Carro a levantar do chão.

Esse salto do carro durante uma colisão é a razão por trás dos casos de ejeção, em que a criança não é retida pelo escudo frontal, sendo arremessada contra o teto e outras partes do carro. Embora as entidades independentes que realizam esses testes saibam disso, ainda classificam essas cadeiras no topo da lista.

Estudos:

Em 2012, Philip Beillas publicou um estudo sobre a pressão abdominal em bonecos infantis: Sensores de Pressão Abdominal Duplos (APTS) para bonecos Q. Para esse estudo, foram adicionados sensores de pressão abdominal aos bonecos, e mostrou-se que os sistemas de retenção com almofada frontal geram uma pressão abdominal superior a 2 bares em bonecos Q3 – crianças de 3 anos.

Em 2013, numa conferência internacional organizada pelo Departamento de Transporte dos Estados Unidos, apresentou-se o “Análise do desempenho de diferentes arquiteturas de CRS de frente com sistema de retenção integral”. Nesse estudo, recomendou-se que o limite de pressão abdominal para crianças de 3 anos, os bonecos Q3, fosse de 1,13 bares. No estudo, há um resumo de vários testes realizados com cadeiras que usam escudo frontal, com bonecos Q3 equipados com um sensor de pressão abdominal. As pontuações máximas obtidas foram de 1,8 / 2,1 e 2,7 bares – todas acima dos limites recomendados.

Em 2014, foi apresentado um estudo que comparou os testes realizados pelas entidades e pelo EuroNCAP, com a diferença de resultados baseada no carro de teste. Este estudo concluiu que os sistemas de retenção com escudo frontal, testados com bonecos Q1, sofreram uma expulsão completa num teste e expulsão parcial em dois testes, incluindo o impacto da cabeça no teto ou no assento dianteiro. Quando realizado com boneco Q1.5, a falta de retenção foi observável. Com bonecos Q3, na fase de ressalto, houve impacto da cabeça no teto e pressão abdominal mais elevada do que a criança consegue tolerar.

Em 2016, um projeto relacionado com os parâmetros de segurança exigidos pela norma I-size recomendou que o limite de pressão abdominal fosse de apenas 1,2 bares. Neste projeto, foi incluído um gráfico que relaciona a pressão abdominal sofrida pelos bonecos com o risco de lesão grave. Olhando para o gráfico, podemos ver que 1,2 bares corresponderiam a cerca de 20% de possibilidade de sofrer lesão grave, e com os 2 bares do projeto de Philip Beillas, essa possibilidade aumentaria para 95%. A Norma I-size fixa os limites em 1,2 bares para boneco Q1.5 e 1 bar para boneco Q3.

Uma norma de homologação define uma série de requisitos que o produto deve seguir para a superar. Como noutros produtos, os sistemas de retenção também devem superar os testes de homologação para que a sua venda seja possível. Uma homologação de cadeiras auto deve definir requisitos rigorosos, baseados em medições detalhadas e realistas, para garantir que todas as cadeiras que superem os testes sejam seguras. Cabe aos pais fazerem as suas pesquisas, informarem-se junto de verdadeiros especialistas e lojas especializadas.

As crianças em Portugal não viajam seguras porque os pais são vítimas de má informação.

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